Assis <i>vs</i> Rangel
Desde a sua apresentação como cabeças de lista respectivamente do PS e da coligação PSD-CDS/PP, Francisco Assis e Paulo Rangel têm mantido uma ternurenta troca de mimos, própria de quem sabe que o melhor é circunscrever o debate ao seu próprio protagonismo e balizá-lo dentro de certos limites políticos, os dos interesses do grande capital nacional e estrangeiro, bem entendidos. Rangel atirou-se contra Assis. Assis respondeu que assim não, que brutidade. A comunicação social dominante vai fazendo o obséquio de manter acesa a chama. E para dar alguma seriedade à coisa, não podia faltar a já célebre declaração de intenções que todos ouvimos ou lemos em anteriores campanhas eleitorais, com estes ou outros protagonistas dos mesmos partidos: «precisamos de um confronto de ideias, de propostas e de argumentos», «dispensamos a demagogia e a propaganda» (Francisco Assis in Público, 03/04/2014). Francisco Assis já desafiou Paulo Rangel para um duelo. Não sabemos se a disputa será aceite, se terá regras, se será ao pôr-do-sol, se terá capa e espada, testemunhas terá com certeza, que um duelo desta natureza não se fará em local recôndito com os dois protagonistas apenas. A honra e a dignidade de tais figurões medem-se pela audiência ao duelo, o valor político será determinado pela capacidade de mostrar diferenças onde só existem semelhanças, tudo somado resultará num protagonismo partilhado com direito aos mais potentes holofotes mediáticos, com repetição e tudo. Convenhamos, é natural que dois protagonistas maiores dos respectivos partidos e da alternância sem alternativa nos governos, nas maiorias da Assembleia da República e do Parlamento Europeu procurem esconder os respectivos rabos-de-palha. Imaginemos a hecatombe nacional que ocorreria se desatassem por aí a dizer que afinal defendem a mesma política, que a política de direita é filha de ambos, parida da mesma barriga e educada para servir os interesses do grande capital. Imaginemos que diziam que a política da troika é para continuar, com ou sem troika, que ambos já se encarregaram de tratar da saúde aos trabalhadores e ao povo português por muito e bom tempo, como o afirmou o Presidente da República, Cavaco Silva, amarrando o País a processos e tratados da UE que visam eternizar a política da troika. Não se espera nenhum acto de contrição da sua parte, daqui até 25 de Maio quererão continuar neste ping-pong, procurando passar ao lado dos problemas centrais do País. Assis continuará a acusar Rangel de populismo e demagogia, pedirá moderação, não fosse ele um defensor de uma coligação entre ambos. Rangel continuará a atirar-se-á ao PS e às suas responsabilidades na entrada da troika. No final um quererá a política da troika de gravata, outro querê-la-á em calções para que enfim tudo fique como dantes no quartel de Abrantes.
Tudo se passaria sem grandes sobressaltos se não existisse uma CDU combativa e disposta a desmascarar as suas responsabilidades e em procurar contrariar a sua determinação em perpetuar a política de destruição de direitos e roubo dos recursos nacionais. Apesar da tentativa de a ignorar, marginalizar e denegrir as suas posições e propostas políticas, existe uma CDU que até 25 de Maio não desistirá de denunciar as responsabilidades de PS, PSD e CDS/PP no rumo de desastre imposto ao País e de apresentar um rumo alternativo, defendendo um Portugal com futuro numa Europa dos trabalhadores e dos povos.
O que querem esconder é que em Portugal e na União Europeia, no governo e na oposição, na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, PS, PSD e CDS foram os protagonistas das decisões que afectam brutalmente a vida dos trabalhadores e do povo português, cuja face mais visível é o pacto de agressão. No Parlamento Europeu estes partidos aprovaram o dito «reforço» da União Económica e Monetária, com a instituição da «governação económica» – processo antidemocrático que reforça o Pacto de Estabilidade e se interliga com o «tratado orçamental» – transferindo para instituições supranacionais, decisões sobre matérias de política orçamental para aprofundar as políticas de cortes no investimento e nos serviços públicos, nos salários, pensões e reformas e a privatização do que resta, ou seja, preparando a tal «saída limpa» de que tanto falam. Suprema hipocrisia, este é o programa a que Assis e o PS chamam «Mudança» e Rangel e a coligação PSD-CDS/PP chamam «Aliança Portugal».